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A Primeira fraude a gente nunca esquece…

5 de novembro de 2010
O Ano era 1992. Eu e dois sócios de uma pequena empresa de desenvolvimento de aplicativos comerciais (em Clipper) andávamos pelo centro velho de Belo Horizonte, em meio a uma pequena multidão. A única coisa que se ouvia nitidamente naquele centrão era a voz de um garoto com uma barraquinha montada sobre um caixote gritando:

– Balas, chicletes, chocolates… balas, chicletes, pirulitos, chocolates…

Olhamos para o lado e encontramos a porta de vidro fumê onde se lia: Motel Tabajara (nome fictício). Olhamos um para o outro, e o sócio mais velho e experiente abriu a porta para nós dois, que tínhamos entre 20 e 21 anos mas vacilamos um pouco para entrar. Ao entrarmos no motel, a ultima coisa que ouvimos foi a voz do garoto:

– Balas, chicletes, chocolates… NOSSA SENHORA!!! TRÊÊIIIS!!!

Ficamos por volta de dez minutos ao pé da escadaria, nos contorcendo de tanto rir, e tentando nos recompor para atender o cliente. Que no caso era o dono do motel.

O Senhor Armando (nome igualmente fictício) havia nos solicitado um orçamento para desenvolver um sistema de controle de motéis (ele era sócio de vários), e sua maior preocupação era que ele sabia que estava sendo lesado por algum funcionário, mas o sistema que ele possuía não indicava nada.

Com uma rápida análise (um comando “Tree” para falar a verdade), pude constatar que a funcionária que trabalhava no caixa tinha uma cópia do sistema instalada em um subdiretório oculto, dentro de uma hierarquia de mais uns 5 subdiretórios.

A fraude funcionava assim: quando um cliente usava o quarto, mas não consumia nada da cozinha, a caixa entrava no sistema falso, recebia em dinheiro e ficava com o valor para ela. Quando ele consumia algo, ela registrava tudo no sistema oficial. Isso se dava porque o Sr. Armando controlava a utilização do motel pelo número de porções e bebidas que ele lá deixava, e o número que era consumido.

É claro que na época eu não passava de um analista/programador, e não tinha a menor noção de forense computacional. Dessa forma, não me preocupei em coletar evidências, muito menos em preservar a cadeia de custódia. Simplesmente fui embora e depois relatei o que tinha visto para o Sr. Armando,

Digamos que o Sr. Armando ficou muito grato, mas desapareceu e não comprou o sistema (ele não precisava mais, já havíamos descoberto a fraude). Eu ganhei experiência (mas na realidade o que precisava era de dinheiro para pagar a faculdade) e até hoje me divirto contando essa história.

Não foi a primeira fraude que detectei na vida, dois anos antes quando trabalhava na compensação de um grande banco eu peguei um esquema de fraude que culminou na demissão de dois gerentes (um de cada banco). Mas foi a primeira vez que vi uma fraude utilizando computadores. Para mim ficaram duas lições:

1) Por mais que nossa integridade moral nos force a acreditar no contrário, existem muitas pessoas que não perderão uma oportunidade de ganhar um “por fora”, fraudando as empresas. Os controles são necessários!

2)  Valoriza seu conhecimento. Meu gerente no banco não me deu parabenizou ou deu um tapinha nas costas, e o Sr. Armando não me deu sequer um voucher de cortesia para sua rede de “diversão”. Eu me encontrava em débito com minha faculdade, e usei de graça o conhecimento que pagava para adquirir.

Depois dessa, já vi muitas fraudes, algumas muito bem elaboradas. Mas dessa primeira, acho que nunca vou parar de rir…
4 Comentários
  1. Fernando você escreve muito bem te admiro bastante. Um abração.

  2. Engraçado mesmo foi o susto do moleque que vendia balas, afinal 3 era demais para entrar num motel, kkk.

    Marcos

  3. Grande Fernando,
    Quanto tempo. Muito interessante esta história.
    Não sabia que o amigo tinha passado também pelo velho Clipper.
    Forte abraço.
    Alexandre Pinheiro
    Fortaleza-CE

    • O Velho Clipper foi depois do Basic, Assembly e Forth. Mas não sou tão velho, comecei aos 12 anos 🙂 rs

      Um abraço,

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